A primeira vez que viajei para a Europa foi no verão de 2010. A animação era imensa, e meus olhos e ouvidos estavam sempre atentos ao que a guia iria dizer. Acabamos contratando um desses roteiros em uma agência de turismo, onde fizemos um tour de ônibus e guia por alguns países.
Saiu tudo muito bem, e tivemos uma experiência incrível. Muita gente critica essa forma de viagem, mas não gostaria de dissertar sobre isso agora. E sim, queria contar uma experiência com uma guia incrível que fez um dos momentos mais marcantes da história tornar forma na minha frente.
Era o nosso princípio de tour. Tínhamos chegado em Paris, fomos a Versailles no dia seguinte, e no terceiro dia, o roteiro era Quartier Latin – Notre Dame – Passeio pelo Sena – Louvre. O passeio pelo Quartier Latin foi incrível, não só pelo local em si, mas também pelos comentários da guia. Um certo momento, ela parou num prédio, e falou que no último andar, em uma tal janela, um jovem soldado chamado Napoleão Bonaparte vivia, e que sempre cortejava a Josephine quando ela passava pela rua.
Primeiro choque de realidade da Europa: perceber que pessoas muito importantes da história passaram por aqueles mesmos lugares que você estava passando no momento.
Andamos por todo o bairro (Quartier Latin significa “Bairro Latino”), e acabamos chegando em Notre Dame. Lá, ela comentou alguns fatos curiosos, dentre os quais, dois me chamaram a atenção.
O primeiro foi durante a Segunda Guerra Mundial, onde o Hitler, após a ocupação da França, mandou colocar bombas em TODOS os pontos turísticos da cidade, como a própria Notre Dame, a Torre Eiffel, o Louvre, o Arco do Triunfo, a catedral de Montmartre, dentre outros. Pra quê isso?
Ele temia o pior, mesmo no auge da ocupação alemã da Europa. Caso por algum motivo o Reich entrasse em colapso, ou algum fato extraordinário como a própria morte do ditador acontecesse repentinamente, a ordem era de ativar todas as bombas, e Paris seria completamente destruída. Um gosto de vingança, não?
Mas enfim, quando os soviéticos já estavam se aproximando de Berlim, e o suicídio de Hitler era iminente, o general alemão que estava no comando de Paris recebeu o sinal verde para a explosão dos monumentos, mas ele não o fez. Ele havia se apaixonado por Paris e não teve coragem de causar mal algum à cidade. Na verdade, uma das bombas explodiu, eu confesso que não me lembro em qual monumento, mas foi uma maneira de “despistar” o comando do Reich. Deu certo, e nada mais foi destruído.
Falando em Segunda guerra, os lindos vitrais de Notre Dame foram todos levados para um castelo na Suíça. Eles ficaram escondidos até 1945 com o fim da guerra. 97% de todos os vitrais foram recuperados.
O segundo fato foi sendo contado dentro da própria Catedral, mas não falando do Hitler, mas sim, do Napoleão – novamente.
O Napoleão era super egocêntrico, e quando ele tomou o poder da França, ele queria ser coroado imperador.
Então, ele queria ser recebido como O homem que mudaria a história da França. Tradicionalmente, os reis da França eram coroados na Catedral de Reims, mas Napoleão não queria ser coroado igual a um rei. Ele queria ser coroado em Notre Dame, a catedral mais importante do país, demonstrando também que ele queria sempre estar perto do comando central na capital.
Além do mais, ele não queria que nenhum padre, ou bispo o coroasse, como era tradição com os reis. Ele queria ninguém menos que o Papa.
O Papa vigente na época era Pio VII, que recebeu o convite para a coroação no dia 2 de Dezembro de 1804. O Papa relutou a princípio, mas naquele momento, a Europa estava curvada a Napoleão, e ele não teve escolha, mediante a um ataque que poderia desmoralizar todo o poder da igreja. Ele teria que ir.
Acontece que o inverno dos anos 1804/1805 foi um dos mais rigorosos em séculos, e existe um longo caminho entre Roma e Paris (além de uma cordilheira). O Papa passou um mês viajando, enfrentou temperaturas baixíssimas, cruzou os A;pes, e chegou esgotado a Paris.
Poucos dias antes da cerimônia, Napoleão certificou-se de que a missa da sua coroação fosse única, e a mais marcante da história. Uma missa de coroação naquela época durava cerca de 2 horas. Napoleão queria que a dele durasse 5 horas.
O Papa nem sabia mais o que fazer para aumentar o tempo da cerimônia, mas conseguiu fazer uma grande missa mesmo assim. No dia da grande festa, após algumas horas de missa, chegava o momento: Napoleão seria coroado.
Só que não. No momento final, prestes a receber na cabeça a coroa do Papa, ele se levantou, tomou a coroa das mãos de Pio VII, e se auto-coroou. Por que isso?
Napoleão achou que se o Papa o coroasse, ele daria a impressão de que o Papa era mais importante que ele. Para ele, nenhuma pessoa no mundo era superior a Napoleão Bonaparte
O Papa havia viajado durante um mês no inverno, e Napoleão entrou para a história por ter colocado a coroa em sua própria cabeça.
Eu já achei essa história que a guia me contou simplesmente incrível, e a riqueza de detalhes que ela deu, foi sensacional! Mas algo completaria o meu dia logo depois.
Após passear pelo Sena, almoçamos e fomos ao Louvre. Lá está o quadro de Jacques-Louis David, chamado simplesmente de “A coroação de Napoleão”. Esse quadro mostra a coroação da Imperatriz Josefina – por Napoleão – e um Papa cabisbaixo atrás dele. Foi o meu aha-moment da minha viagem toda! Eu consegui visualizar toda a situação, estando no lugar onde tudo aconteceu, e visualizando através de uma pintura linda como tudo pode ter acontecido.
A partir daquele momento, eu quis saber ainda mais de todo e qualquer detalhe de todo lugar que eu passava! Já era fascinada por história antes, e a partir daquela viagem só quis saber mais e mais.
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